Na primeira parte deste texto, apontei a importância do problema da demarcação e explorei a definição de ciência tal como articulada por Hansson. Como disse ali, se ela não é uma definição exaustiva, cumpre de maneira bastante satisfatória o papel de fornecer os elementos necessários para uma compreensão razoavelmente robusta de ciência, bem como - de acordo com o que afirmo ao final daquela parte - dá conta de dissolver o falso desafio imposto pela “mudança” histórica da ciência. Nesta parte, quero recuperar e comentar os critérios de demarcação expostos por Hansson1.
Para isso, é preciso apontar alguns pressupostos que assumo aqui. O primeiro deles é que julgo não apenas ser epistemicamente possível, mas ética e pragmaticamente necessário estabelecer a distinção entre ciência e pseudociência (contra Laudan, por exemplo, tal como indiquei no primeiro post). Não estou afirmando que é fácil fazê-lo, mas apenas que parece ser possível e certamente é necessário. Em segundo lugar, assumo que tal distinção deve ser feita a partir de uma perspectiva pluricriterial, isto é, deve ser feita não apenas buscando ou confiando em um único critério necessário e suficiente e, portanto, exaustivo, mas, por tratar-se de uma distinção que necessariamente conecta-se com aspectos epistemológicos, mas também históricos e sociais, deve ser traçada articulando diversos critérios que contemplem aquelas distintas dimensões. em terceiro lugar, não penso, diferentemente de Lakatos, por exemplo, que os critérios de demarcação não possam ser aplicados a proposições ou teorias isoladas, isto é, a demarcação só poderia ser feita em teorias tomadas como um todo. Parece-me que ao menos aqui Popper tem razão: em diversos casos é possível e ética e pragmaticamente importante ser capaz de discernir se tal proposição é científica ou pseudocientífico.